«encontrava-me em cima de uma árvore. o cheiro a sangue fresco penetrava no meu nariz congelado, e sentia o fogo de sede a queimar-me por dentro. tentei situar a fonte daquele sangue. saltei de árvore em árvore, seguindo o meu instinto. ponho as minhas mãos no fogo, como conseguiria fechar os olhos naquele preciso momento e continuar a perseguir a minha presa apenas com o meu instinto. finalmente encontrei o pequeno rapaz perdido, chorava de medo, mas não foi isso que me impediu de me alimentar. saltei da árvore, e pousando os pés descalços na neve branca, caminhei em frente. o pequeno menino parara de chorar, e agora fitava-me atento. ajoelhei-me à sua frente, e tapei-lhe os olhos. senti lágrimas de sangue escorrerem-me pela cara, quando me apercebi o que estava prestes a fazer. mas não conseguia impedir. não agora, quando os meus dentes aguçados estavam tão perto. sentia cada vez melhor, as veias a latejarem por cada milimetro de pele da pequena criança. o rapaz permanecia calado, como se soubesse o que lhe ia acontecer. e como num impulso que não fora meu, os meus dentes cravaram-se na pele do pescoço do pequeno menino, e bebi. ainda não estava completamente satisfeita, mas eu sabia que a minha humanidade não tinha desaparecido por completo. coloquei a pequena criança ao meu colo, inconsciente, e procurei a sua mãe. aproximei-me da cidade, saltando de telhado em telhado. e finalmente avistei uma senhora que chorava, à beira de um passeio, gritando o seu nome. miguel, onde estás? pousei silenciosamente os meus pés no chão, e senti o pequeno rapaz ao meu colo a acordar. ajudei-o a colocar-se de pé, e saltei novamente para cima do telhado. fiquei a observar o reencontro entre mãe e filho, e saboreei o momento, que me soubera deveras melhor do que o sangue de uma criança inocente que provara há pouco.»

guidasilva

(com esperança que alguém leia o meu blog)